Você chegou de mansinho, já do tamanho de um gatinho grande. Ficava no jardim a madrugada toda e de manhãzinha aparecia na porta da sala, olhando pelo vidro, como se quisesse dizer "Olha será que eu posso ficar ai?" Conversava com a sua futura duplinha e amiga pela janelinha- o que nós humanos mais para frente chamamos de "entrevista de emprego da Minzinha". Você me seguia por meia quadra, todas as madrugadas a caminho do trabalho. Eu falava "volta pra casa" baixinho, pois não queria que você se perdesse - e você voltava a salvo. Nessa época você ainda não tinha nome e nem era "nosso". Todos nós alimentávamos você escondido, afinal "não pode outro gato aqui não". Besteira. Você ficou. Ganhou caminha, coleira, escova, muitos petisquinhos e claro, um nome: José Gato, mas sempre chamado de Zé.
O comportamento inicial um pouco arisco foi dando lugar a doçura e meiguice de tamanho incalculável, seja no carinho e nos banhos infinitos na sua duplinha, seja no "coquinho" que você dava na gente, dizendo o quanto você nos amava. Era tanta doçura que seu apelido virou "príncipe de açucrinha" e eu realmente acho que você gostava muito de ser chamado assim, pois sempre fazia mais dengo quando ouvia essas palavras. Você também era ciumento e a gente se divertia um pouco com isso, era só ir para o quintal dar atenção para o cachorro que você começava a gritar na janela da cozinha- e só parava quando a gente voltava pra dentro. Vai entender. Talvez você já soubesse que não iria ficar muito aqui, e por isso tinha que ficar o máximo de tempo junto.
Você era um grudinho carinhoso e silencioso, sempre assistindo o que eu estava fazendo, seja bobeiras, seja trabalho. Às vezes você aparecia nas reuniões, mas eu não precisava me preocupar, pois você não iria espalhar nenhum segredo. Eu enrolava todas as manhãs na cama só pra você vir dar o seu toquinho delicado de nariz dizendo "vamos levantar", enquanto a sua duplinha ficava miando da porta, aguardando você fazer o serviço de "levantar esses humanos tontos".
Eu sei que foi uma coisa muito fora do controle de qualquer um, e que as chances do depois ali eram muito ruins e cruéis pra você, mas não consigo de não ter saudades. Na realidade nunca vou deixar de ter. Nem eu e nem a sua duplinha - que todas as noites tem ido até na porta chamando por você. Não sei se foram os seus últimos anos, ou seus únicos anos, mas eu realmente espero que você tenha tido uma vida maravilhosa aqui.
Te amo Zezé <3