quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Meu amigo mudo

Mais uma história na hora do almoço.

Quase todos os dias eu optava ir ao restaurante por aquela rua. Um caminho arborizado e tranqüilo, talvez por ali ser uma zona residencial. Eram casinhas de muros baixos, bem antigas, daquelas com grades românticas e janelas de madeira. Sol ou chuva, sempre havia uma idosa no portão varrendo a calçada com mangueira e um passarinho cantando em alguma arvore dali. Eu gostava, eram os 5 minutos de caminhada mais prazerosos do meu dia.

Passado esse momento eu chegava ao restaurante: uma antiga e enorme casa, pseudo adaptada para para sua nova função. O dono era um senhor muito magro, careca e simpático que colocava os óculos de aro redondo quando tinha que escrever algo ou contar o troco. Tudo muito limpo e honesto.

Um dia no portão de entrada vejo aquele que seria o meu amigo nos próximos dias: um cachorro vira -lata. Com aquela pelagem de cor indecisa e orelhas alertas, ele estava deitado com o olhar perdido. Obviamente parei por alguns segundos a observa-lo e sorri :sim, todo cachorro tem sua beleza. Ele, em um ato instintivo talvez, levantou a cabeça e retribui o olhar. Me cativou.

Retrato emocional do amigo. Aquarela rapidinha.


Entrei no restaurante e não conseguia parar de pensar no cachorro enquanto colocava a comida no prato, pensava de onde ele vinha, se estava com fome, perdido...Vou levar um agradinho para ele. Cheguei a parte dos churrascos e a mocinha que servia começou a falar:

"hoje o frango está muito bom vai querer?"

Pensei em levar os ossos para o meu novo amigo, mas lembrei que nunca se deve dar ossos de frango ou galinha para cachorros.

"Tem costela?" eu pedi.
"Tem sim" respondeu ela prontamente enquanto já separava a carne do osso para me servir - eu já mencionei que esse era um restaurante muito honesto?
"não, não, pode deixar com osso" falei.

Ela então colocou a peça toda no meu prato com um certo estranhamento. Peguei um copo plástico e segui para a mesa. Almocei e coloquei a costela no copo plástico, fui então pagar a conta. Enquanto pegava o dinheiro na carteira coloquei o copo sobre o balcão, o que fez o senhor colocar os óculos.

"É para o cachorro que está lá na rua" eu digo sorrindo, percebendo o olhar confuso dele. Ele sorri de volta. Eu desço e lá está o cão, na mesma posição. Me abaixo lentamente para não assusta-lo e coloco o copo com o presente próximo a sua cabeça. Ele fareja um pouco desconfiado com o gesto, mas rapidamente abocanha o conteúdo, fechando os olhos enquanto mastiga. Já perceberam essa expressão nos animais, quando eles ganham algo extremamente delicioso? Eles fecham os olhos e a boca expressa um sorriso. Eu acho muito fofo.

Nos dias que seguiram, fiz a mesma coisa, tanto que ao chegar no restaurante ele já levantava as orelhas ao me ver. O senhor do caixa já se habituava com os copos com carne na hora de pagar a conta:
"Ah deixa eu te contar, nós estamos também estamos alimentando ele depois que o resturante fecha, com as sobras do dia" ele compartilhou orgulhoso.
"ah então o que tô dando pra ele tá sendo só a entrada" respondo sorrindo.
"algumas pessoas viram você alimentando ele, e também começaram fazer igual" o senhor completa me entregando o troco. Agradeço e saio com meu "humilde" agradinho, afinal agora ele não só tinha a mim, mas como outras pessoas para alimentá-lo.

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Curtiram essa aventura na hora do almoço? bom, também tem o fabuloso relato do dia da costela e momentos meigos não declarados.

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5 comentários:

Anônimo disse...

Ah que fofa! você fez uma ação legal que fez todo mundo copiar :)

Mas o que aconteceu com o cachorro?

Leticce disse...

O cachorro foi embora depois de um tempo, ele era de um catador de papel e havia se perdido acredito eu.

:)

sergio disse...

Mas foi embora gordinho pelo jeito

Anônimo disse...

Legal!

São pessoas assim que me fazem ter esperança na raça humana!

Adoro cachorros!

Leticce disse...

Ounnn :)