quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Aquele texto secreto...

Sobre um alguém que me afeiçoei não sei porque.


Os dias são repetitivos e eu geralmente estou acompanhada de minha imaginação. Essa é uma região de poucas residências, um pólo comercial. Aqui misturam-se vários tipos de trabalhadores, em passos estranhamente sincronizados formando uma massa de carneirinhos: Camisa social branca, calça preta.

Atravesso a rua mecanicamente, observo tudo a minha volta estando ao mesmo tempo alheia. Nada me prende atenção de verdade, porque nada me surpreende. Sol de meio dia e eu com esse casaco grosso, resultado de uma escolha infeliz feita às seis da manhã...Não adianta assistir a previsão do tempo, aqui é um mundo à parte. Mas tudo bem, esta é minha hora de almoço, reservada em parte para sonhar.

Novamente com a bandeja na mão, escolhendo o que colocar no prato. Cercada de rostos estranhos e familiares, mas hoje com um pequeno diferencial:

ELE.

Está acompanhado de amigos, colegas de trabalho eu presumo. Deve ser um pouco mais velho que eu, um pouco mesmo. Ele sempre tem um leve sorriso bonitinho e secreto no rosto, sabe quando não se usa os lábios, mas sim o olhar? Bom, esse é o dele. Ele deve estar bem satisfeito com a vida, ou com as coisas que faz, mas não parece o tipo que fica esfregando na cara dos outros "ah sou demais". Ele não precisa, a satisfação é dele e para ele...e talvez daí venha o sorriso. Se for a sua vibe , ponto positivo.

Eu mencionei que ele geralmente está acompanhado de amigos certo? Estranhamente não consigo me ater as faces deles, somente Ele me atrai a atenção, por motivos inexplicáveis de minha mente. Minha mente: isso não vem ao caso agora.

Gosto do jeito que Ele se veste. É honesto, simples e sem frescura: "hetero" eu diria - e felizmente não é aquele clichê de roupas sociais. Tá, a parcela de culpa vem em parte do lugar que você trabalha, mas existem mais cores além do branco e preto. Ele deve trabalhar em um lugar feliz, e o chefe também ser gente boa...enfim uma cadeia de boas vibrações para ele chegar aqui sempre com o sorriso secreto bonitinho.

Agora eu tenho um nome para ele: "moço bonito". Tá bom, não é um nome, mas é um jeito de guardá-lo em minha mente. Moço porque não é velho e bonito porque eu gosto de vê-lo. É assim que as coisas funcionam.

É, eu gosto de vê-lo, me dá uma certa felicidade boba. Uma dessas coisas que não tem explicação lógica e racional. Deve ser um cara legal de se conversar aleatoriedades, e como eu presumo, gente boa. Mas o que eu falaria com ele? "bonita camisa, qual o seu nome?". Não, eu provavelmente teria um ataque cardíaco de tanta vergonha e ele obviamente me acharia uma freak. Tudo errado. Fora a chance de sobrevivência depois deste evento provocado por mim e acabar encontrando-o pelas ruas da região. Vergonha...

Os amigos escolheram uma mesa próxima a que estou, logo Ele estará aqui perto. Felicidades que estranhos me proporcionam sem saber. Uma pena, já que estou terminando de comer e meu tempo de ficar aqui também. Quem sabe amanhã o veja de novo.

***

Hoje Ele está sozinho, com o olhar distante e estranhamente sem o sorriso secreto. Poxa, até você moço bonito? Queria poder trazer aquela sua carinha feliz de volta, e isso também me faria feliz. Mas não tenho intimidade, e assim só posso torcer silenciosamente que as coisas fiquem bem com você. Estes são os meus desejos.

Não sei se vou vê-lo novamente. Mudanças a caminho.

***
Yep, este era o texto, que eu escrevi um outro texto sobre não publicar este . Gostaram? Sim, faz quase um ano que estava engavetado.

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domingo, 26 de setembro de 2010

A casa, o velho e o beagle: o fim do ciclo.

Eu e meus amores imobiliários. O fim (?) .

Neste mês retomei o habito de acordar cedo e necessitar de transporte público para chegar aonde preciso. Aqui estou eu novamente observando tudo a minha volta e instintivamente criando histórias para elas. Quanto tempo mesmo dura esta viagem? Ah sim, uma hora. Tempo o suficiente para ficar sonhando.

O mesmo trecho de antes, o pedaço de caminho de sempre. Estou sem meu MP3, então a solução para passar o tempo é acompanhar a novela sem roteiro. E ali, logo a frente, está a casinha que é minha, mesmo sem a ter comprado.

Eu lembro do senhorzinho e seu velho beagle, que diariamente saiam a passos calmos. Lembro que eles pararam com esse habito... E lembro do longo tempo que a casinha ficou com uma placa de "vende-se", sempre com a janela aberta e a cortina de renda balançando ao vento.

Mas agora a placa desapareceu. A janela se mantém com a cortina de renda. talvez tenham desistido de vender...
Não.

O jardim ganhou tapumes cor-de-rosa e a cortina de renda desapareceu. Dias depois percebo os pedaços da casinha indo para dentro de uma caçamba. Não, não deve ser o senhorzinho fazendo uma reforma. Tábuas grandes equilibradas nos parapeitos das janelas e um pedaço da persiana quebrado. O típico descuido sinalizando que aquilo não faz diferença. É , provavelmente acabou.

Eu poderia tirar uma foto da casinha, mas vou guarda-la como uma lembrança. Algo doce, querido e volátil, como muitas coisas que passam pela vida.

***

Se você quer ler a primeira parte desta história, veja aqui.

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Cores, muitas cores.



Para não dizer que só ando postando portfolios alheios e nada de arte minha, hoje coloco amostras rápidas de aquarelas despretensiosas - que na realidade não curti muito o resultado. Mas no final das contas, são válidas.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Portfolio especial: Edmund Dulac





Edmund Dulac (1882-1953) foi um dos mais importantes ilustradores franceses da chamada Época de Ouro da ilustração droga, nasci na época errada . Com traços que caminham entre o art noveua e o moderno, seus mais notórios trabalhos foram na maioria ilustrações para livros de contos de fada.

Por ser um artista muito anterior aos tempos das internets da vida, não há portfolio dele. Mas se voc~e quiser ver mais imagens e se inspirar pode googlear ou wikipediar.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Morreu? pode virar um vinil

Empresa inglesa transforma restos mortais em vinil. Isso Mesmo, Long Plays.
Parece que a moda de "brincar" com restos mortais não parou com a empresa que prometia fazer um diamante com as cinzas de um ente querido. A And Vinily tem seu foco nos amantes de vinil, que um dia irão morrer, mas obviamente amam tanto sua coleção que querem fazer parte dela no "Fim".
Como agradar esse publico? Muito simples amiguinhos, eles simplesmente misturam as cinzas com o material a ser prensado em um belíssimo e personalizado LP, o qual pode tocar qualquer coisa que você deseje, desde um testamento, até a suas musicas favoritas.

E não para por ai, o LP pode levar uma capa personalizada com o retrato pintado do falecido por James Hague, um premiado retratista. A parte creepy dessa história está na própria pagina da empresa, onde é solicitado para que se fazer o retrato o artista precisa de fotos e das cinzas, que também serão misturadas na tinta a ser utilizada.
Exemplo da arte de james Hague

Quanto? a partir de 3 mil libras você pode ser parte de uma tiragem mínima de 30LPs ,e este preço é o mesmo tanto para pets, quanto para apenas partes do corpo. Apenas negócios, apenas negócios.

Você morre e não ouviu de tudo hein amiguinho...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Portfolio: Amy Sherald




Amy Sherald (1973) é uma pintora norte americana que faz retratos de africanos de maneira clean e bela. Veja mais em seu site.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Portfolio : Kristina Collantes




Kristina Collantes é uma jovem ilustradora norte-americana que nos brinda com incríveis ilustrações inusitadas e bastante coloridas. Uma verdadeira psicodelia vetorial. Para saber mais acesse seu portfolio.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Portfolio: Belinda Eaton




Belinda Eaton é uma artista britânica que com cores vivas e detalhes inusitados, faz excelentes retratos e pinturas. Para conhecer mais de sua arte visite seu site ou dê uma passadinha em seu blog.

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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Você não sabe, mas eu tenho um sorriso texto secreto só para você

Um texto sobre outro texto, que ainda não existe aos olhos de todos. Atenção: O texto a seguir pode ter conteúdo de #mimimi
imagem aleatória sem ligação com o conteúdo do post*


Tem coisas que não se controla, como o destino e gostar das pessoas.

Faz uns dias que eu coloquei aqui o texto sobre um fato do meu cotidiano, sem pretensão que alguém fosse ler até o final e dar feedback. Erro meu, vocês amam aleatóriedades não é mesmo? Tanto que me foi sugerido colocar mais desses "pequenos contos de observação". Empolgada, fui atras dos rascunhos dos textos, pois eles não recentes- aliás o da costela data de um ano atrás pelo menos.

"Mas porque os textos não são recentes?" Você amiguinho leitor questiona-se em silêncio enquanto aguarda o desenrolar do texto.

A grande maioria de meus textos foi escrito em blocos de rascunho - quando eu conseguia arranjar um lugar para sentar no ônibus, na volta para casa. Um dia de trabalho, uma hora de almoço e observação do mundo: alimento para minhas coisas. Então podem concluir que a letra é toda tremida, e isso tira de cogitação eu preguiçosamente colocar scans dos textos aqui no blog.

"Ok, mas e o mimimi? e o lance de gostar..."

Indo por partes. No meio de todos os textos inacabados, rascunhos e coisas indecifráveis encontrei um dos textos que eu tinha na lembrança como "o melhor". Quando o finalizei, isso também a mais ou menos um ano atras, algumas coisas aconteceram e eu acabei esquecendo de publicá-lo. E lá ele ficou guardadinho, até essa semana passada.

"Se o texto tá pronto..."

E está, só falta publicá-lo. Mas tem um porém: esse texto , fruto de observação, teve o seu héroi. "ah grandiscousa! o outro teve o senhor que narrava alimentos". É, mas desta vez é diferente, pois quis o destino que eu conhecesse o "herói"- sim, no sentido de trocar palavras e saber nome - em um período bem posterior ao que escrevi. E para completar a situação, a projeção que fiz dele sem conhece-lo ficou perfeita.

"Ok, mas qual o problema? tem alguma coisa ruim no texto? a pessoa é do mal?"

Ao contrário, ele é uma das pessoas mais queridas e adoráveis que já conheci, alias tão adorável e querido que temo irritá-lo postando um texto com impressões tão meigas- e verdadeiras. Mesmo o texto não citando nenhum nome ( óbvio eu não sabia!!!) e descrição física exata, não quero deixar ninguém incomodado.

Esse é meu motivo. E esse é o meu texto sobre outro texto que ninguém leu. Fantástico não?.

*Mentira, a imagem tem ligação sim com o post. Haha

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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Portfolio: Chiara Batista (milk)



Chiara Batista ou Milk (34 anos) tem é uma ilustradora norte americana com um traço moderno e burlesco. Mais artes pode, ser vistas em seu myspace.

domingo, 5 de setembro de 2010

Dica de filme: Devdas

Olá amáveis leitores ! o post a seguir será recheado de cores, romance e talvez spoilers -mas este ultimo item talvez não pese tanto na hora de assistir a dica de hoje.
Depois de ter a trilha na pastinha de favoritos a séculos, fui atras do filme para assisti-lo, afinal se as músicas são boas, o filme obviamente seria - minha lógica de pensamento. Acertei.

Devdas (2002) é a terceira refilmagem de uma famosa história indiana, sendo a primeira a ser em cores. Foi o filme mais caro da indústria bollywoodiana até aquele ano, sendo também ganhador de inúmeros prêmios ao redor do mundo.

Vamos ao enredo:

Devdas (Shahrukh Khan) é um advogado recém-formado, que retorna para sua casa -uma mansão enorme- após 10 anos de estudos na Inglaterra. Mansão, Índia, estudos no exterior e advogado:podemos concluir que ele é rico. A noticia deixa todos na sua casa empolgados principalmente sua mãe que quer ser a primeira que o filho "bote os olhos" na sua volta a terra natal.

Pausa: A mãe de nosso herói consegue ser a cruza dos arquétipos de "mãe judia" e "mãe italiana": Exagerada, super-protetora e dramática ao extremo. Tudo isso em uma moldura de pulseirinhas e saris lindos. Voltando.

Para a surpresa de todos na sua casa, o bom moço opta por passar primeiro na casa da sua vizinha - e paixonite de infância- Parvati (Aishwarya Rai). Conhecemos assim a mocinha, suas intenções e sua história: desde a partida de Devdas, ela acendeu e "cuidou" de uma lamparina representando seu amor e devoção. Sim, 10 anos e a chama nunca se apagou.

A fofissíma canção contando a história dela. Legendas em inglês:

Muito amor e paciência faria igual

O encontro deles reacende todos os sentimentos guardados por anos e fica claro que eles irão se casar.

É assim que se flerta na Índia. Carta na cara, quase arrancando um olho e jogo de quem consegue colocar a pulseirinha.

>>>Pare de ler aqui se você não quer saber o final do filme, e corra para procura-lo e assistir<<<

Mas um pequeno detalhe é lembrado constantemente pela cunhada à mãe dele: a mocinha vem de uma "linhagem" de dançarinos e não seria uma escolha de noiva adequada, podendo rebaixar a imagem da família. Um equivalente grosseiro seria dançarinas do Tchan X familia Real Inglesa, entenderam?. O casamento é dado como certo pela familia Parvarti ,e sua mãe toda empolgada vai à casa de Dedvas formalizar o pedido, com direito a cantoria e agradinhos à futura sogra: em vão. Ela termina humilhada pela mãe do moço, já envenenada pelas palavras da nora. A mãe de Parvati então amaldiçoa Devdas e sua família e promete que casará sua filha com alguém mais rico e poderoso que o ex-futuro genro.

Nesse meio tempo, Devdas proibido de ficar com sua amada, cai em depressão e sai pela cidade com um amigo afogando as mágoas com muita bebida e bordeis. É ai que ele conhece Chandramukhi (Madhuri Dixit), uma cortesã que acaba se apaixonando por ele. Ele cai em si, e volta para Parvati, mas somente a tempo de assistir seu casamento arranjado com um quarentão viúvo, com filhos da idade dela - e sim, muito mais rico e importante que ele. Climão NADA manero no dia do casamento.

Assim cada um segue sua vida, bem infeliz. Devdas entra em decadência total: doente de tanto encher a cara, rolando por bordéis e Parvoti tendo que lidar com enteados da mesma idade e um marido que só pensa na esposa falecida.

Um dia Parvoti descobre o quanto Devdas está acabado e vai a sua procura para ajudá-lo. E é com a cortesã, também apaixonada por ele, que ela conta para proteger e salvar seu amado. Obviamente isso rende uma sequencia musical sensacional:

É muito amor você pedir pra outra tomar conta do seu amado, porque não quer que nada de ruim aconteça com ele.
Em vão.
Devdas com suas ultimas forças pede que o deixem na casa de Parvati, para que ali ele morra em seus braços, como ele mesmo havia desejado. A seguir a seqüencia final do filme, com incrível fotografia e muita simbologia:


Chorei horrores.

Infelizmente este video não achei legendado com uma qualidade decente, então vou explicar: Um empregado da casa conta a Parvati sobre um homem que está morrendo na porta da mansão, ao saber a descrição e seu nome ela sai desesperada para encontra-lo. Mas o marido manda que fechem o portão, impossibilitando o ultimo encontro dos dois.

Muito emocionante, recomendo que vocês procurem assistir nesse feriadão.(ou qualquer tempo livre)

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sábado, 4 de setembro de 2010

Posters para a nova temporada de HOUSE.



Posters anunciando a nova temporada de HOUSE. Com direção de arte tão sensacional que mereceu um post.
PS: ansiedade MODO ON.

Portfolio: David MacDowell




Com pinceladas cheias de humor ácido, é assim que David MacDowell se expressa em suas telas. Sempre recheadas de personalidades e personagens do mundo pop, seu portfolio parece uma grande coleção de ilustrações retiradas da revista Mad.

Nada passa desapercebido aos seus olhos e aos seus pinceis afiados, tanto que um dos mais recentes hits da internet já virou arte em suas mãos:

é...esse mesmo.

Se você quer conhecer mais deste artista, pode ir a seu site, blog ou flickr.

Bom proveito.

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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Portfolio: Ekundayo




Ekundayo é um jovem pintor (1983) de Honolulu , que mescla diversas técnicas e materiais para realizar fantásticas e surreais pinturas que nos levam ao seu mundo particular. Mais trabalhos podem ser vistos em seu site, e os processos de pintura em seu blog.

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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Porque quarta é dia de costela.

Como o de costume me dirigia ao restaurante de sempre às quartas-feiras motivada, dentre outras coisas, pela costelinha ali servida.

imagem ilustrativa.

Aquele restaurante tinha vários atrativos que me faziam ser fiel ao estabelecimento, dentre eles a suculenta carne com ossos coberta de barbecue. Era quarta-feira o dia que a iguaria era servida e eu deixava claro a quem fosse me acompanhar que era lá que eu ia almoçar.

Quarta-feira também era o dia com o maior índice de bizarrices para o meu lado.

Aquele era um senhor com uns 60 anos, obviamente em seu horário de almoço e que sempre acabava perto de mim na fila para o buffet. Por esse motivo acabávamos nos cumprimentando com sorrisos silenciosos em sinal de educação. Eu não sabia o nome dele, e nem ele o meu, mas eu sempre terminava terrivelmente sem graça quando ele aparecia. O motivo: ele insistia em conversar sobre o que e quanto eu colocava no meu prato.

Estou com minha bandeja sobre o apoio. Nela há um prato pequeno para entradas e o maior para pratos quentes. A disposição dos alimentos no buffet é a seguinte: bebidas> doces> saladas> pratos quentes. Então, enquanto aguardo as pessoas na minha frente se servirem de saladas, encaro o bolo de chocolate que está na altura de meus olhos.

"Porque não?" Penso enquanto coloco uma fatia da grossura de um aspargo no pequeno prato. "Umas frutinhas também vão bem hoje" concluo e completo o espaço restante do recipiente. Um dia quente combina com frutas, saladas e coisas leves e as pessoas a frente parecem estar com a mesma linha de pensamento, por isso parecem demorar mais que o de costume para escolher o que comer. Tudo bem, eu estou sem pressa.

Ele chegou, e por coincidência, escolheu o mesmo lado que estou na fila para servir-se. Menos mal, ele está acompanhado da colega de trabalho e provavelmente não irá comentar sobre o que eu vou comer.

"Vou pegar essas frutas, hoje tá quente né?" diz ele olhando para mim enquanto coloca salada de fruta em seu prato "ah vejo que também tem um bolo de chocolate aí" completa sorrindo e olhando para a minha bandeja.

OH MEU DEUS

"É sim" respondo com um sorriso educado.
"Ah um doce não faz mal as vezes, mas na minha idade tenho que controlar" ele suspira em sinal de auto desaprovação enquanto fala.

A fila anda, posso finalmente caminhar para pegar saladas, e a colega do senhor parece ter comentado algo com ele que tirou sua atenção de meu prato. Rúcula, tomate, agrião, brócolis e algumas outras coisas vou colocando no prato, na quantidade certa para saciar a minha fome. Fico indecisa por alguns segundos entre duas saladas de grãos: erro fatal, ele me alcança.

"ah salada faz bem né? tem que comer essas coisas saudáveis" ele comenta enquanto encara as duas travessas de salada "mas aposto que você também come para manter esse seu corpo" completa me encarando com um sorriso.

PAUSA
Silêncio constrangedor. Segundos que dão tempo para inúmeras pequenas reações a volta.

A colega dele o encara um pouco sem graça, mantendo-se em uma pose estática . Um rapaz a minha frente me encara com um sorriso contido, em um gesto de compreensão e vergonha-alheia. Eu fico querendo me enterrar no buffet. Ele finalmente se dá conta da situação e tenta contornar.

"Todos precisamos cuidar do corpo, da saúde..." Ele diz sorrindo, em um misto de discurso e justificativa.

Bom, agora é só mais uma coisa aqui no prato: um teco de costela e eu posso dizer que terei uma alimentação balanceada. Ironia do destino: a travessa de costelas acaba bem no momento que seria a minha vez. Sei que o serviço aqui é eficiente e que em poucos segundos uma das mocinhas do restaurante trará da cozinha um novo lote fumegante. Quem quiser passar na minha frente, fique à vontade, pois vou esperar aqui um pouquinho.

"Pode passar na frente eu estou esperando aqui"eu digo para o senhor afim de não segurar a fila.
"ah não, tudo bem eu ainda não sei o que vou pegar daqui" Ele responde.

A mocinha chega então com a travessa e eu pego um pequeno pedaço de costela sem grande alarde.

"ahh estava esperando a costela hein!" o senhor exclama e dá uma piscadinha.
Respiro fundo e fico com um sorriso tímido no rosto. Falta pouco para eu pegar a comanda e ir pra mesa. Outra dessa só quarta que vem..ou talvez amanhã.

Isso é vida real gente, minha vida. Acredite ou não.

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