segunda-feira, 22 de junho de 2009

A vida há de ser mais que isso - parte I

Esse é um daqueles textos de desabafo, que facilmente não obedecerá nenhuma lógica narrativa. Se você não tem paciência para ler, não o culparei amiguinho leitor.

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Atrás de mim, no onibus, um moço no celular:
"a gente passou a semana toda lá fazendo a mudança..inclusive eu fui no fim de semana...não precisava, mas eu fui ajudar....agora ele quer que eu vá sozinho no feriado tomar conta dos servidores...Mas ele não vai estar lá...a gente já tá sabendo que ele vai viajar....consideração nenhuma pelo meu esforço...onde eu tô? ah tô no ônibus ainda...dentro de uma hora tô ai..sabe como é..."


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São 6h40. Está frio, mas eu tenho que levantar o mais rápido o possível, pois quanto mais tempo demoro, mais difícil é pra sair da cama. Vou pro banho e em seguida tomo um curto café. Tudo isso tem que acontecer antes das 7h30...alias eu tenho que estar já no primeiro ônibus as 7h30, se não atrasa todo o resto do caminho.

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Uma idosa entra no ônibus, este que já estava visivelmente lotado a km de distancia, e começa a praguejar sobre o mesmo estar cheio. Começa a gritar que acha um absurdo e inicia um protesto solitário que ninguém ali está realmente a fim de ouvir, Não por falta de educação, mas por aquela ser uma linha de transição entre as pessoas que pegam o metrô ou outro ônibus para trabalhar- e realmente a ultima coisa que se deseja no começo do dia é reclamação. Ela continua a reclamar por mais uns 5 minutos até gritar na cabeça do motorista que ela ia descer ali fora do ponto e que era direito dela. O percurso que ela fez ao todo não passou de 200 metros.

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São 7h25 e o primeiro bus ainda não passou. Já sei que quando ele chegar vai estar lotado. Doce inocência imaginar que estará vazio com um lugar bonitinho pra eu me aconchegar. Pelo menos essa nova rota me dá menos 30 min do dia perdido.

7h40: entrei no primeiro bus, obvio que eu tenho duas opções confortáveis - ir de pé, esmagada a cada freada por outras pessoas; ou ir sentada sobre um espaço da roda (não é um lugar para sentar, mas...). Escolho a segunda. Fico sentada em posição fetal, fecho os olhos e aguardo até a chegada ao meu destino.

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As pessoas no passeando no parque de manhã parecem felizes. Eu imagino onde e que tipo de trabalho elas fazem para ter esse liberdade mágica de caminhar todos os dias. A mulher que antes caminhava com dois labradores velinhos, agora só leva um. Eu secretamente fiquei triste pela situação que imaginei.

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dialogos aleatórios:
"cacete não anda, vamo chega atrasada de novo"

"hahhaa ai a vaca vai tá lá com aquela cara de mal comida "

"com a chave do carro dela na mesa e falando ' de novo? porque vocês não acordam mais cedo?"

"vontade de falar umas boas pra ela amiga..."

"Chefe é tudo assim...queria ver eles botando moral depois de uma semana pegando busão com a gente"


"ia fica tudo miudinho..acha que é por preguiça"


"você não viu o come que ela deu na mari semana passada por uma besteira de nada"


"ahahaha ela dá come nos outros porque ninguem come ela"


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8h40: parece que todo mundo decidiu sair de carro hoje está aprendendo a dirigir. Ainda não cheguei no segundo ponto, e falta ainda uns 30% do caminho a ser percorrido.
Desci. Agora observo os carrões passando lentamente pela rua...todos com uma pessoa só.
"moço você não quer me dar uma carona? eu juro que não sou uma assaltante....tem espaço ai vai...".
Pois é. Calor infernal e eu com 3 blusas. Na hora que sai de casa estava frio. E nada do segundo ônibus ainda.

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De roupa social bicolor, escova e havaianas ela permanece sentada com um leve sorriso no rosto enquanto ouve musica. O sinal fecha e com ele se vai o semblante feliz. Em um gesto rápido e desgostoso ela tira os fones, os enrrola e coloca dentro da grande bolsa, ao mesmo tempo que retira um par de sapatos de saltos finos. Tira a havaiana e coloca os saltos. Levanta-se antes do sinal abrir, para poder se equilibrar antes do tradicional tranco da aceleração do bus. Desce no ponto seguinte, com passos cuidadosos e cabeça baixa.

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Já estou no segundo ônibus. Obviamente este também é lotado e para em todos os pontos possíveis. Respira fundo...respira. Minha cabeça doi...mas é sempre assim.

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Todos deveríamos ser Benjamim Button. Essa é a conclusão que chego a essa altura do caminho. Vamos nascer velhos e ir ficando mais jovens com o tempo. Não faz sentido você jogar os anos de juventude (nossa que frase de tiazona) dentro de um escritório, só pra juntar dinheiro e no final 'curtir' a aposentadoria. Eu sei que agora a moda é pregar o 'melhor idade'...mas eu considero minha sugestão muito mais legal.
O mundo seria bem diferente. Você nasce velinho, com direito a todas as doenças que a terceira idade dá direito. Então conforme você cresce, as doenças vão desaparecendo. Se seu corpo nasce com 80 anos, aos 20 você terá cara de 60, mas quando chegar a sua aposentadoria você terá cara, disposição e corpinho de 20 anos, mas com a grana de quem trabalhou uma vida inteira. Viu?

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Segunda-feira, tudo começou de novo. Oba, lá se vão as minhas 20 horas semanais no transito, porque afinal, eu tenho uma vida toda né?

4 comentários:

Ásbel disse...

adoro esse blog =D

Sergio Virgilio disse...

esse texto foi o ápice do meu dia...obrigado fadz
saudades : )

ps: posso usar ele pra fazer um roteiro? com os dévidos créditos a sua pessoa, claro.

Leticce disse...

Pode sim Loiro^^
se filmar seu roteiro, me manda o videozin depois?

saudadenhas tb:)

Sergio Virgilio disse...

mando, claro : )