terça-feira, 9 de novembro de 2010

Pequenos prazeres

Posso chamar esse texto de crônica?


Pode-se dizer que ele tinha uma vida confortável, com os luxos necessários para realizar desejos esporádicos. Nem rico, nem pobre, parte da classe média. Geladeira cheia, eletrodomésticos modernos na cozinha e o apartamento cheirando a "glade flores do campo"- resultado do trabalho de Dona Filomena, a diarista, no dia anterior. Era sábado, um dia preguiçoso e que pela primeira vez nem ele, nem a esposa, tinham planos para ocupar com alguma atividade.

A previsão do tempo falou "sol forte todo o fim-de-semana". Ele se apoiava no parapeito da varanda, observando as crianças brincando lá embaixo, na area comum. Com o olhar perdido, lembrava-se de sua infância, dos dias no sobradinho de vila e dos churrascos que o velho vizinho, Seu pedro, fazia e dividia com todos. Aquilo era bom.

"Amor vamos fazer um churrasco?"
"Quê?"
"Um churrasco...estou com vontade. Tem carne de monte na geladeira"
"Aquilo não é carne querido, é filé mignon"
"É carne sim amor, eu tenho certeza haha"
"O que eu quis dizer é que não é uma carne para churrasco. E eu comprei ela para a Dona Filó fazer um strogonoff na segunda"
"Hum"
"Tá não me olha assim, pode fazer seu churrasco, mas deixa alguma coisa pra Dona Filó poder preparar ok?"

Ele sorri, vai até a geladeira, pega o pote plástico com a carne e sobre ele equilibra um pack de latinhas de cerveja para o churrasco solitário. Caminha até a porta da sala:

"Querido onde você vai?"
"Vou para a churrasqueira fazer o churrasco!"
"Na churrasqueira do prédio?"
"Sim, lógico. Onde mais?"
"Ih amor não vão deixar você fazer isso hoje. Alias, nem hoje, nem amanhã..."

Ela então aponta para um envelope sobre a mesa de entrada. Ele segura a carne e a cerveja enquanto lê o papel colorido.

"Mas que inferno! custava esses gêmeos terem nascido no mesmo dia??"

A vizinha do 42 estava orgulhosa: seus gêmeos completarão um ano. Gêmeos que nasceram em dias diferentes e ela daria uma festa-um churrasco, nos seus aniversários. Ironicamente este era o fim de semana do aniversário deles, e claro ela já havia reservado a churrasqueira os dois dias.

"Eu achei que você soubesse querido"
"Não sabia"

Ele suspira e dá meia volta para a cozinha.

"Você ainda pode fazer seu churrasco ué..."
"Como é querida???"
"Ah usa a george foreman...Não é a mesma coisa, mas pelo menos você mata sua vontade de churrasco"
"Hum...é"

Ele se acomoda na pequena bancada da cozinha. Liga o aparelho e abre uma lata de cerveja.

"Querido não esquece de usar a pá de silicone pra mexer na carne, pra não estragar o anti aderente da george"
"Ah tá"
"É a de cabo rosa na gaveta"
"Eu sei"

Ali estava ele selecionando um pedaço de carne-que-não-servia-para-churrasco com uma pá rosa para saciar sua necessidade. Mas espera, ele não queria carne, ele queria CHURRASCO. O sol na pele, a fumaça, o carvão, o suor, o espeto que aparentava uma arma letal e todo aquele fogo. Agora isto estava resumido em nacos modestos de carne "inadequada", sem fumaça, pá rosa e luz branca na cozinha.

Respirou fundo. Desligou a george, guardou a carne e terminou de beber a lata de cerveja. Estava prestes as transcender.

"Já volto!"

Ele disse enquanto pegava a chave do carro saia do apartamento. Estava agora entrando no supermercado. Carrinho em mãos.

"Eu vou fazer churrasco"

Comprou picanha, sal grosso, carvão e uma churrasqueira barata desmontável. Pagou e colocou tudo em sacos duplos. Porta-malas. De volta pra casa. Elevador de serviço. Décimo quarto andar. Agora era só um lance de escada para o andar de serviços, também conhecido como cobertura. Abriu a porta de incêndio , espaço para is desejos a frente.

Montou a churrasqueira e colocou o carvão. Colocou a carne na grelha. Fumaça. Vento conta, fumaça em seu rosto. Pele vermelha queimando ao sol, com probabilidade de gerar bolhas no fim do dia. Estava satisfeito. Teve seu churrasco.

Pequenos prazeres.

***

Então amiguinhos, acho que este é o primeiro texto que posto aqui e que não é relacionado com minha vida ou algo que aconteceu nela. São pessoas imaginárias e fatos imaginários. Simples .
Se você quiser momentos reais veja o texto da maçã no ônibus; o da paixonite secreta ou a batalha por comer anonimamente , dentre outros.

>Gostou do texto? Aproveite e me siga no Twitter :)

3 comentários:

Adamo Alighieri disse...

Vamos fazer um churras aqui em BH? :D

Leticce disse...

Churras são sempre bem vinddos!:D

Ronachér Pinheiro disse...

Deixo pra você a dica de um site sensacional especializado em churrasco, vale a pena conferir pra fazer um churras de verdade...
WWW.TVCHURRASCO.COM.BR
Abçs